Andar às compras por Lisboa pode ser uma
agradável experiência cultural, para isso basta passar por algumas das
lojas históricas. Algumas delas já existem desde a época Pombalina ou até de anos
anteriores.
A autarquia Lisboeta em colaboração com a
Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa elegeram as 63 primeiras
lojas, que pela sua preservação dos elementos patrimoniais, culturais e
históricos, são as primeiras a serem classificadas no âmbito deste programa. Prevê-se
ainda que até final do ano poderão ser acrescentadas mais lojas.
Hoje vamos
contar-lhe um bocadinho da história de algumas das lojas.
Quem diria que andar
às compras também poderia ser um momento cultural?
A indústria conserveira
é muito importante no nosso país e é das coisas que sabemos fazer melhor.
A Conserveira
de Lisboa, situada na baixa de Lisboa, mais precisamente na rua dos
Bacalhoeiros, existe desde 1930 e na altura dava-se pelo nome de Mercearia do
Minho, tendo-se dedicado desde logo às conservas, uma vez que um dos seus
fundadores era armazenista deste tipo de produtos. Em 1942, passou a chamar-se
pelo nome que hoje a conhecemos e ao longo dos anos viu algumas mudanças de
sócios e sofreu com as reviravoltas da história, como o fim da guerra dos
ultramar e a não remodelação das fábricas, a entrada dos congelados no mercado
e chegado dos hipermercados. Porém, a
Conserveira de Lisboa foi conseguido se manter graças à visão de criar marcas
registadas próprias, como a Tricana, a Prata do Mar e a Minor.
A rua Garrett albergou durante mais
de um século, uma das mais tradicionais ourivesarias. A Ourivesaria
Aliança nasceu em 1909 como uma filial de uma ourivesaria portuense com o mesmo
nome, onde se destacava a sua decoração ao estilo Luis XV e a fachada em ferro trabalhado
que data de 1939, da autoria do arquiteto Oliveira Ferreira e o seu teto na
entrada decorado com uma tela da autoria de Alves Cardoso, tendo sofrido nos
anos 40 obras de ampliação.
Depois do
seu fecho em 2012, foi adquirida pela multinacional espanhola, Tous, vendedora de jóias e acessórios de moda, que se comprometeu a manter os traços originais da antiga Ourivesaria Aliança, assim hoje podemos admirar a antiga Aliança embelezada com
as peças Tous.
Durante
muitas décadas, a importância de vestir peças de qualidade sobrepôs-se ao ter
peças em quantidade. Ao saber disso, Joaquim Rodrigues um conhecedor dos
hábitos dos lisboetas, fundou em 1925 a Luvaria Ulisses, onde idealizou
um estabelecimento que fosse uma referência na cidade. Instalado no Chiado,
mais precisamente na rua do Carmo, a zona mais nobre do comércio Lisboeta, a
loja foi idealizada para servir a sociedade mais exigente da época, vendendo um
produto de alta qualidade de design próprio, que deu resultado na criação de
uma oficina destinada à manufatura das luvas que comercializava, conseguindo
assim controlar o mais possível a qualidade das matérias-primas e do processo
de fabricação.
A decoração
da loja, que até hoje permanece praticamente intacta, é constituída por móveis
de inspiração império, que combinam com a fachada neoclássica.
A Luvaria
Ulisses é hoje a última casa em Portugal com venda exclusiva de luvas, que
desde do início teve como clientes a elite política, cultural e artística da
cidade.
Antes de nos
podermos deliciar com os Pastéis de Belém na muito conhecida loja dos “Pastéis
de Belém”, no início do século XIX, em Belém, funcionava uma refinação de
cana-de-açúcar associada a um pequeno espaço de comércio.
Depois da
revolução Liberal de 1820, todos os conventos e mosteiros de Portugal são
encerrados, sendo expulsos todos os elementos do clero e os seus trabalhadores. Como
forma de conseguirem sobreviver, alguém ligado ao Mosteiro dos Jerónimos põe à
venda naquela loja uns pastéis que rapidamente ganharam fama.
Por aquela época,
Belém ficava distante dos restantes centros da vida social de Lisboa e os seus acessos
eram assegurados apenas por barcos a vapor, mas ainda assim o Mosteiro dos Jerónimos
e a Torre de Belém, conseguiam atrair visitantes que depressa se acostumaram a
saborear os Pastéis de Belém.
Em 1837, inicia-se de forma mais “profissional”
o fabrico dos Pastéis de Belém, nas instalações anexas à outrora refinaria de cana-de-açúcar,
respeitando a receita original trazida do Mosteiro dos Jerónimos. Ao longo dos
tempos foi apenas transmitida aos mestres pasteleiros que a fabricam de forma
artesanal, fazendo com que até hoje a receita se mantenha igual.
Tudo começou quando a D.Carlota
sentava-se a fazer bonecas de trapos à porta de uma loja de ervas secas, na Praça
da Figueira, perto do Chiado, e ia consertando as bonecas das crianças da
vizinhança. Daí nasceu o Hospital das Bonecas em 1830 e hoje é considerado o
“hospital” mais antigo do mundo.
O Hospital é composto por uma loja
que ocupa o piso de baixo, onde são vendidos brinquedos em primeira mão e em
bom estado e no primeiro andar funciona o hospital e um espaço de exposição, no
total são 12 assoalhadas com enriquecidas pelas histórias das centenas de
bonecas.
Ao longo dos anos foi recebendo distinções,
entre elas, foi considerada uma das lojas mais fantásticas do mundo em 2014 pelo
Buzz Feed e eleita como a quarta melhor loja de bonecas do mundo, pela revista
Reader’s Digest do Canadá.
Foto: Hospital de Bonecas
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